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Incêndios: como se governa o fogo?
A pergunta a que 1500 especialistas
tentam responder na Alfândega do Porto



Publicado Set 14, 2023

 Carla Tomás
Jornalista Jornal Expresso 


Entre esta terça e sexta-feira, o Centro de Congressos da Alfândega do Porto recebe a oitava edição da Conferência Internacional sobre Incêndios Florestais. Durante quatro dias, 200 oradores (entre 1500 especialistas participantes de 80 países) debatem modelos de governança para gerir os riscos de incêndios florestais em Portugal e no mundo. A época de incêndios florestais de 2022 foi a segunda pior na UE e as projeções indicam que os cenários se vão agravar

Prevenção, deteção e extinção de incêndios florestais, a governança desta gestão e o portfólio de soluções tecnológicas para enfrentar a era do fogo estão no centro do debate na Conferência Internacional sobre Incêndios Florestais, que começou esta terça-feira no Centro de Congressos da Alfândega do Porto e decorre até sexta.

Organizada pela Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF), com o Alto Patrocínio do Presidente da República, a conferência acontece numa altura em que o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) coloca 34 concelhos dos distritos de Faro, Coimbra, Viseu, Guarda, Castelo Branco, Portalegre e Santarém em perigo máximo de incêndio, devido às elevadas temperaturas e à situação de seca que cobre 89% do território continental.

Enquanto uns discutem o número de meios aéreos que estão no terreno, outros alertam para “a armadilha do combate”. É o que faz Tiago M. Oliveira, presidente da AGIF, na nota introdutória a esta conferência: “O reforço da supressão, sem investir na gestão dos combustíveis, é uma solução rápida que aumenta o problema para um nível superior. Esta armadilha de combate aos incêndios ou Paradoxo do Fogo, num ambiente global mais quente e seco, está a expor diferentes biotas e comunidades a incêndios florestais”.

Em entrevista recente ao Expresso, o historiador especialista em fogo Stephen J. Pyne lembra que, “mesmo triplicando o equipamento de combate a incêndios, já não se consegue parar o fogo, porque perdemos o controlo sobre a paisagem”. O autor do livro “Piroceno - de como a humanidade criou uma idade do Fogo e o que virá a seguir”, lançado agora em Portugal, também frisa que “o fogo pode ser o nosso melhor amigo ou o nosso pior inimigo” e que “se não o levarmos a sério e não compreendermos a relação que temos com ele, ele vai destruir-nos”. Pyne é um dos oradores nesta conferência.

PASSAR DAS PALAVRAS À AÇÃO

Voltando a repetir a mensagem que tenta passar desde os trágicos incêndios de 2017 — de que “temos que correr mais depressa nesta maratona” — Tiago Oliveira sublinha no texto introdutório da conferência: “À medida que a gestão do fogo se torna uma questão socioecológica complexa, exige instituições robustas, procedimentos transparentes e responsáveis e uma comunicação permanente com os principais interessados”. Também releva a importância de “um orçamento equilibrado entre o tratamento e a supressão de combustíveis, num conjunto de políticas coesas”.

E isto significa, no seu entender “desmantelar uma cultura de silos, promover o diálogo interdepartamental, evitar consequências indesejadas de políticas públicas transversais (agricultura, florestas, energia, desenvolvimento, ambiente, fiscalidade e outras)”. O desafio é passar das palavras à ação.

 E o mesmo parece concluir o Tribunal de Contas. “É necessário investir mais na prevenção de incêndios”, “ter uma intervenção mais eficaz nos territórios em termos de gestão ativa da floresta” e “um planeamento mais claro, mais articulado e operacionalizado das ações”, sublinha um relatório conjunto dos Tribunais de Contas de Portugal e de Espanha, divulgado recentemente.

No documento é referido que deve definir-se o modelo de financiamento dos corpos de bombeiros, promover atividades de sensibilização, persuasão e alerta”, e frisa-se que “a luta contra a desertificação e a prevenção e extinção de incêndios continua a ser um desafio para os dois países” com a maior incidência de incêndios com comportamento extremo na União Europeia (UE).

ÁREA ARDIDA NA UE QUASE DUPLICOU EM 2022
Com as alterações climáticas em curso, agravam-se os cenários presentes e futuros de risco de incêndio rural. A época de incêndios de 2022 foi a segunda pior de sempre na União Europeia (a pior foi em 2017), segundo dados do Sistema Europeu de Fogos Florestais (EFFIS). No ano passado, a área ardida em 26 países da UE atingiu 837.212 hectares no total, o que equivale a um aumento de 86% face a 2021.
Espanha (315 mil ha), Roménia (162 mil ha) e Portugal (112 mil ha) foram os três países que mais arderam em 2022 e também aqueles onde as chamas mais afetaram áreas protegidas da Rede Natura 2000, destruindo habitats de especial interesse para espécies da fauna e flora.

Segundo o EFFIS, 2023 já apresenta números preocupantes, associados à seca que afeta grande parte da Europa. E Espanha e Portugal (mais de 8155 ha) são as que têm mais área ardida até agora, tendo já ultrapassado a média para o mesmo período.


ALERTAS AUSTRALIANOS

Um relatório de uma equipa de formação profissional australiana, que esteve em Portugal no ano passado, identifica “oito pontos-chave que parecem limitar a eficiência e eficácia da gestão dos incêndios florestais em Portugal”. Entre as falhas, o documento (colocado na página da AGIF recentemente) aponta: “A existência de legislação que restringe práticas operacionais efetivas na supressão de incêndios florestais, gestão de combustíveis e fogo controlado; a falta de capacidade dos gestores para definir e chegar a acordo sobre os objetivos da gestão das terras numa determinada área; a falta de pensamento estratégico e de responsabilidade, a muitos níveis, a ponto de parecer ser uma atitude cultural enraizada; uma gestão sistemática dos riscos não adequadamente aplicada antes, durante e após os incêndios florestais; e a falta de padrões nacionalmente consistentes de formação, competência e atualização dos bombeiros”.


16 MAIO 2023 15:11




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