Última Hora: Inteligência Artificial despede assessor de imprensa em Portugal
Publicado Set 20, 2024 Jornal Eco
É oficial: conheci o primeiro assessor de imprensa que foi substituído por ferramentas de Inteligência Artificial. Vou ser preciso: a empresa prescindiu dos serviços de um assessor de imprensa e a “alternativa que encontrou” foi pedir a alguém do marketing que usasse o ChatGPT para escrever os press releases.
Muitos, especialmente profissionais da área, dirão “que heresia”, “que ridículo”, “deviam ser denunciados”. Outros dirão: “interessante”! Para ajudar à inflamação das opiniões acrescento que o “demitido” me confidenciou “os press releases estão interessantes”. Querem ver que é desta? Que, depois de termos sobrevivido ao anunciado apocalipse do press release, à crise dos media, ao prometido “El dorado” das redes sociais, vamos sufocar às mãos biónicas de um “computador”.
Talvez, digo eu. Mas isso acontecerá se um dia também os jornalistas tiverem sido substituídos pelos mesmos sistemas de Inteligência Artificial, se o layer de credibilidade das fontes for irrelevante e notícias e conteúdos falsos coexistirem nas principais fontes de informação, hoje designados por órgãos de comunicação social. Porque reduzir o trabalho de um profissional de relações públicas à produção de conteúdos (seja para press releases ou branded content) revela ignorância ou má fé.
Vou tentar evitar a tentação dos artigos pseudo pedagógicos sobre o futuro das Relações Públicas e a Inteligência Artificial. O que sinto é que a disciplina que vive da antecipação de cenários de crise e do potencial de um tema resultar em notícia, é das mais bem preparadas para lidar com o desafio e a tentação de comparar um robot de cozinha com um chef. Também o primeiro prepara refeições, poupa tempo, é mais barato e é seguramente muito mais prático. Mas nesta metáfora entendemos a importância do craft, da personalização, da dimensão sensorial e sobretudo na confiança que o autor representa no resultado.
As relações públicas da era IA são uma realidade e, sejamos honestos, servem o propósito de algumas empresas. Não me refiro às que a usam pelo inquestionável valor enquanto ferramenta, mas das que se apressam vê-la como uma oportunidade para cortar custos. Essas dificilmente alguma vez perceberam o valor da gestão de reputação. A mensagem de alerta, neste caso, é dirigida às agências que praticam dumping e apoiam o seu serviço numa abordagem simplista (a única possível face aos fees praticados) da comunicação, reduzindo-o a um serviço de assessoria de imprensa. Um pouco como os “designers” que vendem templates de logotipos.
Não me levem a mal, mas acredito mesmo que entre ser trocado pelo ChatGPT ou por uma agência sem consultores especializados a diferença está apenas na representação da substituição humana pela máquina. Num artigo da Forbes de novembro dizia-se que todos os trabalhos relacionados com resolução de problemas e gestão de crises não serão substituídos pelas ferramentas de Inteligência Artificial. Talvez. Mas a tecnologia já nos mostrou que a velocidade com que evolui pode tornar uma certeza absoluta numa mentira em pouco tempo.
Somos espectadores de uma revolução sem precedentes: da medicina de precisão aos veículos elétricos, do Big Data, da estratosférica relevância das redes sociais, à forma como passámos a comprar online, entre tantas outras. E se há discussões sobre as ameaça à espécie, quem somos nós para jurar que a nossa profissão é insubstituível?
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